Artista plástico vai
de telas brancas a troncos e raízes para compor sua arte e transmitir uma mensagem
Chegar atrapalhando e assustando um artista
plástico enquanto ele medita felizmente não causa irritação ou algo que o valha. É como se pessoas
diferenciadas que vivem de arte não tivessem tais reações. Em um encontro, bate-papo de pouco mais de uma
hora, em seu ateliê de artes, um cômodo com algumas janelas e obras por todos os lados, em cima da garagem de uma casa no distrito industrial de Terra Preta,
em Mairiporã, o artista plástico Antônio Sebastian Sá avisa, de antemão, que a
vida de artista é um campo em que o ritmo de produção
em série ou “nutelarização das coisas”, seguindo a febre de “raiz” naquela comparação com o creme de avelã com chocolate, não tem vez. “Você não pode chegar aqui [no Ateliê] e ‘gostei daquele quadro. Faz um para mim. Você sabe fazer’. Não é
assim. As pessoas não entendem. Então, muitas vezes, chega cliente aqui. Ela
quer um determinado trabalho. Tenho que dar uma aula para ela, o porquê de tudo
aquilo ali, para poder levar um trabalho. Levei 50 anos para aprender isso aí [pintar]. Não é assim, sentar e chegar. Minha melhor
amiguinha é a borracha. O lápis e a borracha”, comentou o artista que há
mais de 50 anos enxerga arte em tudo.
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Sebastian Sá ao lado de seu
autorretrato em “decomposição geométrica”; Foto: Claudio Porto
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Sebastian Sá (já que “Antônio
é muito comum. Sebastian tem mais energia, mais força”) marca a arte com
sua adaptação do cubismo, que, curiosamente, pouco tem a ver com o movimento lançado por Picasso no início do século passado - quando as telas ganharam mais aspectos
geométricos, os rostos ficaram mais claros, nítidos e simétricos. Sob as mãos
de Sebastian, os pincéis também fazem às vezes de réguas na produção de
quadros, retratos e paisagens que surgem em formas coloridas de retângulos
naquilo que ele definiu como “decomposição geométrica”, nome de seu movimento.
Formado em Belas Artes
e edificações pelo Instituto Nobel de Tecnologia, Sá diz que a
“decomposição geométrica” é a junção entre o dom de desenhar e pintar com o passado
em edificações. “Trabalhei quase 30 anos
como desenhista de edificações. E lá aprendi de tudo. Entrei menino,
praticamente, antes do Exército. Foi onde aprendi e depois fui estudar. Aprendi
com os colegas, amigos mais antigos”, destaca o pintor.
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“Campeão” de Sebastian Sá; Foto: Arquivo pessoal
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No autorretrato de 2006, Sebastian aparece em meio a
retângulos bem delimitados. Já em Campeão,
é a vez de um hipista sobressair dos mesmos retângulos. O nascimento de uma criança e a ideia de movimento tornam-se pinturas nos homônimos Nascimento e Movimento, respectivamente.
Todas as obras carregam o mesmo objetivo: transmitir uma mensagem. “Quando
você senta para pintar, a obra passa a energia para você pelo trabalho. Tanto é
que, encomenda é meio complicado. Você precisa entrar na cabeça do cliente para
saber exatamente o que ele está pensando com relação o pedido dele, tanto
desenho como na pintura. Tem um lado psicológico da coisa também, né? Você tem
que compreender ela. Entender para executar. Porque, quando você leva um
trabalho para casa, você tem que colocar na parede, sentar no sofá, olhar para
ele e ele tem que passar alguma coisa para você. Energia. Sentimento. Você
viaja. Ela fala muito mais”, comenta o artista que não restringe sua base de
matérias-primas a telas e pincéis.
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Autorretrato de Sebastian Sá em “decomposição
geométrica”; Foto: Claudio Porto
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Para ele, as telas podem trazer delimitações em seus muitos
retângulos, como que várias pastilhas compondo suas inspirações e ideias, mas
não impedem a versatilidade em lidar com outra, digamos, matéria-prima.
Indiferente ao material
usado na produção de uma ideia, Sá não se contém e, se preciso, agarra tronco e
raiz para promover experiências como enxergar um jacaré no fundo de um rio agarrando o que seria uma presa. O jacaré é uma realidade no ateliê de Sebastian. Com a
boca ensanguentada, lá está ele digladiando com seu alimento.
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O “jacaré” de Sebastian Sá talhado pela natureza; Foto:
Claudio Porto
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Sebastian trabalha atualmente na produção de releituras de
fotografias, sob a técnica de guache, de funcionários de uma empresa
multinacional de cimentos. A empresa encomendou à Sá que transforme retratos em
pinturas, que farão parte de uma exposição com trabalhadores representantes dos
países em que a empresa tem fábricas e filiais.
O Ateliê de Artes
Olhos do Mundo fica no Jardim Pereira, em Terra Preta.