No dia 19 de dezembro do ano passado, o então prefeito, Marcio Pampuri
(PV), e Benedito Braga, secretário de Saneamento e Recursos Hídricos de São
Paulo, inauguraram o simpático Parque Linear Turístico de Mairiporã. Às margens
do rio Juqueri, o parque conta com playgrounds, ciclovia, pista de caminhada,
academias ao ar livre, quadras poliesportivas, espaço para shows, exposições e
para a tradicional feira de sábado. Durante o ato de entrega, o então
prefeito, poeticamente, disse que o Parque foi feito para as crianças que
ali poderão “correr, brincar e
observar o mundo com seus olhos. Que são os olhos da alma”.
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Parque Linear à noite; Foto: "Sxlighting" |
Não é de hoje que os mairiporanenses anseiam por políticas públicas
voltadas a mais espaços de lazer e cultura na cidade. O Parque inaugurado há pouco mais de 6
meses, impressiona e orgulha a todos com a sua beleza e por ter transformado uma
das mais belas, das muitas belas, regiões da cidade: os arredores do antigo
espaço viário Mário Covas. É comum ouvir elogios à obra da Prefeitura e da
Sabesp. Facilmente você encontra alguém que comente sobre o alargamento da
Avenida Nipo Brasileira e a criação de vagas para estacionar em volta do Parque. Outros falam da belezura que é passar por aquela
região a noite e observar a iluminação toda em LED. Enfim, há forte impressão
de que todos tomaram o Parque para si como um novo “xodozinho”. E realmente, o
espaço é todos os mairiporanenses, mas não para todos os mairiporanenses.
Andar por Mairiporã é um dos mais desafiantes problemas para a população e para os últimos prefeitos da cidade. Se locomover
das periferias, inclusive Terra Preta, até o centro é uma triste dificuldade.
Há bairros em que temos itinerários da ETM (Empresa Transportes Mairiporã),
outros em que somente a solidariedade da carona, peculiar de uma boa
vizinhança, prevalece ou até mesmo salva vidas. Quantas vezes soubemos de casos
em que vizinhos, por terem automóvel, socorreu, em meio às frias madrugadas de
Mairiporã, algum conhecido. Há tempos gerido pela ETM, o transporte coletivo tem melhorado, mas os longos intervalos dos ônibus, a falta de novos
veículos e rotas mal planejadas mostram que as ações ainda estão longe de
corresponder a uma população de quase 100 mil habitantes.
Com a volta de Antonio Aiacyda, prefeito eleito pelo PSDB, as
perspectivas de rever e promover avanços nas áreas sociais, especialmente na
rede de transporte coletivo, infelizmente por ser o mesmo de alguns anos atrás,
margeia a improbabilidade. Reparar as paradas – pontos de ônibus -, implantar
cobertura e tapumes nos fundos, contra sol e chuva, projetar rotas que
realmente facilitem a vida dos usuários e, principalmente, discutir os horários
são os pontos iniciais da necessária discussão.
Não é permissível que os ônibus parem de circular antes da
meia-noite. Sabemos que estar em São Paulo, à noite, e depender de ônibus, é
estar sempre atento e preocupado com o relógio, para não perder o famigerado
“DIVISA”, o 042. Ainda tem aqueles que querem curtir as noites no centro da
cidade, inclusive o novo Parque, mas pelos horários, preferem ficar em casa.
Além dessas ações, a prefeitura deve iniciar, mesmo em meio à crise ou ao
uníssono e cansativo discurso de “falta de dinheiro”, projetos que levem a
gratuidade do transporte para os estudantes da rede pública, tanto das escolas
municipais como das estaduais. Elaborar um programa que garanta cotas nos
ônibus da ETM, em que o estudante, além de usa-las nos dias convencionais de
aula, possam se locomover por toda a cidade - inclusive para ir ao Parque -
independente do dia ou horário.
Em hipótese alguma, um estudante que por questões legais não
trabalha, terá condições financeiras de ir aproveitar um dia nas margens do
Juqueri. E mesmo que tenha, o transporte é um direito e, assim sendo, deve ser
requerido. Imaginem as famílias que, além de não terem automóvel, têm crianças
e todas maiores de seis anos, em que a passagem é obrigatória.
Enquanto não houver ações que realmente levem o público ao
Parque Linear, ele se manterá como o Parque das margens, margens não somente do
Juqueri, mas de boa parte dos mairiporanenses.